Marcio S Galli, 5-8-2024
Muitos dos problemas no caminho do escritor estão criados por nossas percepções. Por exemplo, visualizamos o que é um escritor pelas medidas externas, como aquele ou aquela que lê muito, que escreve muito ou que escreve bem. Essa visão é grande parte do problema pois nos impede, a cada momento, de progredir e avançar o processo. Desta forma, pensamos que o caminho "mais curto" envolve essas caracterizações de status, tipo escreva bem antes e só depois pense sobre o que escrever. Não é nossa culpa, sabemos. Isso está por toda parte, não só no que se refere a escrita ou escritor. Isso não é diferente do buscar a nota 10. Estamos a todo momento fazendo pelos resultados, para agradar, para passar. Com isso utilizamos nosso tempo para modelar ou controlar o resultado.
Mas o problema é que acabamos sendo controlados. Não é que este caminho não funcione. Pode dar certo, em certo grau. Porém, para muitas pessoas, é um caminho longo e árduo ou frustrante ou sem graça, dentre outras caracterizações. O pior é que pode levar a um estado de bloqueio. E de novo, quando pensamos em bloqueio estamos pensando nos resultados - naquele artista bloqueado ou no bloqueio de um escritor profissional. É quase o mesmo, mas é o bloqueio que vem antes de tudo, aquele que nem parece bloqueio porque não tem movimento em primeiro lugar. Como acontece? Pensamos que podemos, mas logo desistimos, começamos e logo paramos, perguntamos aos outros e confirmamos que não vale avançar.
Em termos de tempo, aquele ou aquela escritora no futuro, passam-se semanas, meses, anos ou décadas. Ou uma vida toda. Agora, me lembro de um precioso conselho da autora Julia Cameron, que me alertou que ao tentar escrever correto (no sentido de adequar ou agradar o mundo) eu até poderia escrever bem, mas não garante escrever algo interessante que faz alguém querer ler.
Então eu faço um convite para você, para considerar uma outra ideia, vou chamar de Escrevendo um Escritor. Neste sentido, precisamos de olhar para o ser que é em primeiro lugar e como que nosso ser pode se tornar. Neste sentido, não partimos da ideia onde o escritor nasce com o domínio de ferramentas, como a língua portuguesa como um instrumento de trabalho. Sim, a língua portuguesa é um instrumento de trabalho dos escritores que estão lá. Mas o nosso destino não é assumir que dominar essa ferramenta, ou outras como as ferramentas de IA, é o caminho mais simples. Nosso objetivo - na construção do escritor - clama por um processo humanizado que é tranquilo, menos frustrante, e de fato real. Vamos lá, criar as condições para um processo de evolução de um ser escritor que ao ser, em primeiro lugar, torna-se. Um que usa da escrita para escrever o próprio ser. Um que, acima de tudo, é escritor para a vida, não um escritor para o trabalho. O melhor desse caminho, escrever para a vida, é que é o melhor e menor caminho para o sucesso.